Na casa dos gritos, de tudo acontece. Só esse ano ja vi, aluna com marca de faca na barriga, gritos toda semana nos corredores e patio, nao sei porque gritam tanto, e ainda mais o que os motivam. Alem de unhas decepadas, alguns foragidos por assassinato (mas esses nunca vi, gracas a Deus), muitas gravidas, e ate motivados politicos eu encontrei mas enfim.
A primeira vez que fui a casa dos gritos nao imaginava no que viria a se tornar. Não havia ninguém alem do segurança, mas as 14:30 a diretora chega e fica meio que com o pé atrás ao ver um rapaz jovem dizendo ser professor e apresentando os documentos para se firmar naquela casa. Pensei em ter visto a replica de onde estudei, por isso fiquei feliz a principio.
Quando de fato tudo comecou, pensei que estava tudo ok, porque me foi garantido os quatro ultimos tempos da tarde e os tres primeiros da noite. Mas sonhos nao se realizam tao facilmente, no meu caso os pesadelos se manifestam com maior frequencia.
Meus tempos permaneceram desorganizados por um bom tempo, e alem disso, nos foi imposto que eu deveria dividir o mesmo horario com a mestra de espanhol. Pode um negocio desses? Uma casa de ciencia, nao ter horarios proprios para seus principais subjects? É ultrajante.
Mas enfim, como tudo me foi jogado, o jeito foi agir com improvisacao. Utilizamos de uma conversa informal sobre seus futuros, o que pensavam em fazer ate o fim do ano. Tive que fazer isso com todos pra de fato mostrar pra que vim. Como vi seu curriculo, lhes apresentei as tecnicas das quais iriamos trabalhar. Porque afinal só tinha aquele mesmo. E me deparei com a pior das coisas. Nao havia livros de ingles. Como poderia trabalhar na casa dos gritos sem livros, totally without books?
Usei o que havia a disposição. Carregar equipamentos de sala em sala para apresentar o que veriamos naquele dia. Mas carregar aqueles equipamentos sete vezes para montar e desmontar é humilhante para um profissional que estudou tanto para ser mal remunerado. Alem disso, a configuracao do note da casa dos gritos desconfigurava meu trabalho que eu tentava usar com a audiencia gritante.
Ate que parei de ter acesso ao note, material principal para o audio e video do maquinario. Entao, tive que regredir a escrever na parede branca. E ao escrever na parede branca, alem de suar voce fica muito cansado naquele calor de 35 graus. Uma ilha quente, imagina.
Com o cansaco, e a indisposicao dos gritantes, 50 minutos se tornam nada, perante o que tinhamos pra aquele dia. A noite sao 40 minutos. Imagina a situacao.
Mas o que me chamava atencao era como aquela casa de gritos era comparada a um shopping center. Todos iam ao primeiro tempo, mas quando alcancavam o terceiro tempo queriam fugir como se estivessem numa prisao. Sim, a comparacao com o shopping center. Em Terehell, tinha-se o costume de ir ao shopping para shopolhar, shopcomprar, shoppassear, e as pessoas com uma conta bancaria baixa, normalmente iam para shopolhar e shoppassear e shopfofocar, ou tambem shopsemostrar e shopficar. Era o que acontecia na casa dos gritos. Nao parecia uma casa de ciencia, mas sim um local que funcionava como passarela. Que mundinho eles tem, meu Deus. Eles nao se dao conta de como tudo aquilo é cafona e ultrapassado.
Espera-se que na adolescencia eles possuam ou adquiram um definicao de sua identidade, mas o que acontecia era uma regressao. Parecia que a idade mental diminuia a cada serie. É ridiculo, mas é o que acontece.
Continua no proximo post...